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Viva os 50 anos do Pasquim

Em 01/07/2019 às 10:13:03

Nióbio. Nióbio é o que temos para hoje. Seria um prato cheio para o velho Pasquim. Na semana passada, o jornal completou 50 anos de seu lançamento. E dá muita saudade. Hoje, se estivesse ainda ativo, teria um prato cheio, não só pelas sucessivas e diárias derrapadas do governo, mas por ter um conhecimento de causa dos eventos que chegamos até aqui. Senão vejamos. Ogolpe de 1964foi uma articulação política golpista feita por civis e militares. Por causa da relação de Jango com o sindicalismo e sua ideia de fazer Reforma Agrária, levaram os conservadores a chama-lo de comunista. E Tambémincomodava também os Estados Unidos, que consideravam João Goulart "muito à esquerda" e passou a financiar os movimentos golpistas no Brasil, principalmente grupos como Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais,e o Ibad, oInstituto Brasileiro de Ação Democrática. Os grandes jornais uniram-se em uma articulação golpista. A conspiração dos grupos da extrema-direita estava de vento em popa, quando as manifestações de grupos conservadores tomavam as ruas com discursos pela família, tendo a Marcha da Família com Deus pela Liberdade a mais famosa. No final, no dia 31 de março, uma grande rebelião feita porOlympio de Mourãodeu início ao golpe civil-militar. Alguma semelhança com os dias de hoje?

Tenho muito orgulho de ter participado um pouco dessa história do Pasquim, de resistência ao sistema, começada por Tarso de Castro, Sérgio Cabral e Jaguar. O nome foi sugestão do cartunista, vendo que seriam difamados pela ala de direita, então assumiram de uma vez o nome Pasquim, que significava texto satírico colado em local público; pasquinada; jornal de pouca importância. Surgiu inicialmente como jornal comportamental que falava sobre sexo, drogas, feminismo,entre outros temas. Com o tempo, virou político e teve figuras como Ziraldo, Millôr, Claudius, Fortuna, Paulo Francis, Ivan Lessa, Ruy Castro, Fausto Wolfe, Luis Pimentel e Borjalo.

Foi um sucesso estrondoso. Algo nunca esperado. Vendeu 100 mil exemplares, sem anúncios, que no período foi algo de muito sucesso. Se sustentava apenas nas vendas nas bancas. Millôr costumava dizer que para um jornal underground, duraria 6 meses e se passasse disso, não seria mais underground. O sucesso não foi apenas pelos cartuns ácidos e poderosos dos maiores cartunistas do momento, mas as entrevistas sem retoque, inovadoras no jornalismo e casual para eles. Grandes entrevistas foram feitas, entre elas Cazuza, Jânio Quadros, Chico Buarque, Dina Sfat e Leila Diniz, com participação da redação e sempre com o olhar atento de Rick Goodwin e registrado recentemente na série para televisão das Grandes entrevistas do Pasquim, direção do documentarista André Weller e uma interpretação maravilhosa de Augusto Madeira, no papel do Jaguar.

As inovações não foram apenas para a imprensa brasileira, que depois adotaram a fórmula de fazer entrevistas, assim como encheram suas redações de cartunistas, mas criaram modismo também em comportamentos e da língua, como as expressões: Duca, Pô, Quimera e É Ford. Tiveram o melhor plantel de ilustradores da época, com a participação incrível de Henfil que era da ala mais política do jornal, e trouxe personagens significativos como a série O Cemitério dos Mortos-Vivos, em que "enterrava" que eram favoráveis a ditadura. Muitos deles não queriam sair na sessão. Elis Regina foi tirar satisfação pessoalmente com o cartunista. Isso mostrava a força do trabalho dele. Outros passaram por lá, com contribuições geniais e em início de carreira, como Miguel Paiva, Reinaldo, Lapi, assim como os geniais cartunistas de São Paulo, Angeli e Laerte, que achavam os trabalhos cariocas mais light do que os de São Paulo.

Foram bons ventos que passaram nesse período e sobreviveram por muitos anos até o século 21. Mais uma vez, o clima ficou sombrio no país com clima seco, nos remete talvez a uma nova resistência juntando forças mais uma vez dos cartunistas e novos conceitos digitais. Isso porque todos os indícios apontam para um único culpado: O vento.

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